Azul Marítimo é um solo de 50 minutos que nasceu a partir da vontade do seu autor e ator em realizar uma pesquisa de seu corpo em cena. Um corpo distônico, que não pára e não opera dentro dos limites da biomecânica, se faz então a própria linguagem em novas técnicas. Um corpo com deficiência é, então, o futuro, uma curva que desvirtua o trajeto linear, que desafia a exatidão e que reafirma que quando tudo se diz concreto, somos líquidos. A liquidez, o mar e a deformidade são ondas que estouram em cena, a dramaturgia que vai muito além do texto, que transborda em um corpo que sua, que cansa e que se esgota. O ritmo do corpo, do mar que dança involuntariamente. Marítimo. De mar, de ritmo. Todo corpo dança. Todo corpo é uma dança. Em três atos, a dança de Victor, esse corpo sozinho no palco, o gozo por ser quem se é, isso tudo junto, constroi a encenação de "Azul Marítimo", pois a onda que trouxe o impossível, aqui para esse corpo, volta para imensidão que é o mar como ato possível. O espetáculo "Azul Marítimo" não dispõe de elementos cenográficos, pois aposta em um refinamento de luzes em recortes, cores e fumaças conceituados pelas faltas (sociais e dramaturgas) e adensados pelas intensidades. O som, embora contínuo, contrasta com danças e ações silenciosas que sublimam a história e as ficções que rodeiam Victor, sozinho, num palco. Será que essa solidão se faz apenas esteticamente em solo ou seria "Azul Marítimo" também mais um solo que se faz posicionamento político?